SALVAÇÃO

A SALVAÇÃO VEM DAS OBRAS OU DA FÉ/

O QUE DIZ A BÍBLIA SOBRE ISSO?

VEJAMOS, COMEÇANDO COM A CARTA DO APOSTOLO “TIAGO”.

No capitulo, 2 versos 14, Tiago, diz: De que proveito é, meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas ele não tiver obras? Será que tal fé o pode salvar?

Deve-se notar que Tiago não contradiz o que Paulo falou, a saber, que “o homem é declarado justo pela fé, à parte das obras da lei”. Rom. 3:28. Tiago concorda plenamente com este ensino, mas escreve para refutar o abuso ou a deturpação dele. A deturpação era o conceito de que o homem, apenas por ter idéias corretas sobre ser justificado pela fé, sem nenhuma demonstração desta fé por boas obras, era justo aos olhos de Deus e finalmente receberia plena salvação. Na realidade, conforme Tiago salienta, qualquer pretensa fé que não induzir a pessoa a boas obras não é fé genuína. Tal homem apenas ‘diz que tem fé’. Aquele que afirma ter fé no sacrifício expiatório de Cristo e que diz que é cristão, mas não demonstra esta fé por atos, não é realmente cristão. Se a sua “fé” não tiver produzido mudanças na sua personalidade, na sua vida e nos seus atos, que lhe adianta então? Como pode ele fazer o que Jesus ordenou aos seus seguidores:Mateus. 5:16 “Deixai brilhar a vossa luz perante os homens, para que vejam as vossas obras excelentes e dêem glória ao vosso Pai, que está nos céus”?

Chamaria alguém a um homem de verdadeiro médico, doutor dedicado, que se estabelecesse num consultório e expressasse fé no tratamento médico, mas que nunca tratasse ou ajudasse alguém clinicamente? Jesus disse: “Nem todo o que me disser: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, senão aquele que fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus.” Mat. 7:21. O que Tiago diz no versículo 14 liga-se com a descrição que faz no capítulo 1:26, 27, onde fala sobre o homem que ‘acha que é’ ou ‘pensa que é’ adorador de Deus, mas deixa de produzir os frutos de sua fé ou de sua forma de adoração. Deixa de “refrear a sua língua”, de discipliná-la para falar em harmonia com a verdadeira situação, com o que ele realmente é. Sua forma de adoração é “fútil”. Ele deixa também de ter obras, tais como cuidar dos órfãos e das viúvas, e manter-se imaculado do mundo. Além disso, tal profissão vã e fútil de fé leva a pessoa a erros tais como mostrar parcialidade, por não cumprir a lei do amor e por não ter misericórdia.

SERÁ QUE TAL FÉ PODE O SALVAR?

Note que Tiago não enfatiza a própria fé, mas sim a “fé” específica em questão, “tal fé”, a falsamente chamada fé, que não tem obras. Conforme Tiago reconhece, a verdadeira fé na palavra de Deus pode salvar nossa alma.Tia. 1:21. Nisto Tiago concorda plenamente com Paulo. Ambos estão em harmonia quanto à verdadeira fé e às obras cristãs. Mas, Tiago considera obras diferentes daquelas sobre as quais Paulo escreve em Romanos, capítulos 3 e 4.

Paulo, dizendo que as obras não podem resultar para alguém numa declaração de justiça, está falando sobre obras da lei, em que a pessoa se empenha, obras em que talvez se estribe, pensando que pode adquirir a justiça de Deus ou que as contínuas boas obras do cristão, em si mesmas, lhe granjeariam a justiça.Rom. 4:2-5. Mas Tiago fala sobre obras cristãs que são motivadas, não por um código de leis, mas pela fé e pelo amor. São o resultado, o produto e o fruto desta fé, e não podem ser separadas ou desligadas da verdadeira fé. No entanto, Paulo, embora salientando que alguém é inicialmente declarado justo pela fé, fala também repetidas vezes sobre a necessidade de o cristão se empenhar em obras de fé — obras que mostram esta fé. Chama os cristãos de povo “zeloso de obras excelentes”.Tito 2:14; veja 1 Tessalonicenses 1:2-7; 1 Timóteo 2:10; Tito 2:7; 3:8, 14.. E quem realizou mais obras do que Paulo? Tiago pergunta: “Será que tal fé [isto é, a que não tem obras para mostrar sua genuinidade] o pode salvar?” É claro que a resposta é: Não, não pode.

VERSOS 15

“Se um irmão ou uma irmã estiverem em nudez e lhes faltar alimento suficiente para o dia, 16 contudo, alguém de vós lhes disser: “Ide em paz, mantende-vos aquecidos e bem alimentados” mas não lhes derdes o necessário para os seus corpos, de que proveito é?

Com “nudez”, Tiago não necessariamente queria dizer estarem nus, mas estarem insuficientemente vestidos (a palavra grega gymnos pode ser usada neste sentido). Tiago apresenta aqui um exemplo vigoroso. Palavras, pensamentos ou desejos bondosos expressos por alguém, sem serem acompanhados por uma ajuda tangível, embora ele possa prover amparo material, não são de auxílio nenhum, mas, na realidade, são uma afronta e podem agravar a dor de quem sofre.
Do mesmo modo, a pretensa fé, que não faz nada e não exerce nenhuma influência prática na vida da pessoa, nem induz outros a ter fé, é inútil. Alguém que diria: ‘Vá em paz’, ao mesmo tempo repelindo aquele que sofre privação, deixando para outro o trabalho de ajudá-lo, seria conhecido na comunidade como alguém que não tem nem amor, nem bondade. Do mesmo modo, o professo cristão com tal fé vã revelaria a futilidade de sua religião, lançando vitupério sobre Deus. Poderia isso ser chamado de cristianismo? Estaria seguindo o exemplo de Cristo? O patriarca Jó numa ilustração similar, mostra o julgamento adverso que ele mesmo teria recebido, se tivesse seguido este precedente.

VERSOS 17

Assim também a fé, se não tiver obras, está morta em si mesma

A espécie de fé que não vem acompanhada de atos, em harmonia com a sua profissão, não somente não faz nada para quem a tem, mas tampouco exerce influência sobre os homens, e nenhuma sobre Deus, assim como tampouco um morto pode influenciar os vivos. “Por si só” está morta. (Almeida, atualizada; Tradução Interlinear do Reino, em inglês) Quer dizer, segundo a evidência que apresenta, tal “fé” não fornece nenhuma prova de ter qualquer vida, apesar das afirmações positivas de quem a possui.
VERSOS 18
Não obstante, alguém dirá: “Tu tens fé e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé à parte das obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.”

Neste caso, Tiago usa um artifício literário. Evidentemente prevendo que haveria alguém associado com a congregação cristã que levantaria objeções às suas declarações inspiradas sobre a fé e as obras, ele apresenta “alguém” como que dirigindo as palavras já citadas a outro membro da congregação.
Se ele for considerado como alguém que apóia o argumento de Tiago, então este “alguém” está falando a um objetor, que acredita que basta a mera fé. Ele diz ao objetor: “Tu [afirmas que] tens fé e eu tenho obras.” Prosseguindo, este “alguém” levanta o desafio: “Mostra-me a tua [suposta] fé à parte das obras, e eu [em apoio do argumento de Tiago] te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” De fato, quem afirma ter fé, mas não tem obras para prová-la, não teria realmente a fé verdadeira que conduz à salvação. Sua suposta fé seria ficção sem vida.
Por outro lado, Tiago talvez quisesse apresentar este “alguém” no papel dum objetor na discussão sobre a fé e as obras. Começar Tiago com a palavra grega que significa “mas” ou “não obstante” dá apoio a esta conclusão. Neste caso, a declaração do objetor a outro membro da congregação seria: “Tu tens fé e eu tenho obras.” Ou, conforme A Nova Bíblia Inglesa verte estas palavras: “Mas alguém talvez objete: ‘Aqui há um que afirma ter fé e outro que aponta para os seus atos.’”
Como devemos entender as palavras que Tiago colocou na boca de tal pessoa? O indivíduo retratado seria alguém que cria que Tiago estava errado no seu argumento. Ele tranqüilizava ou consolava outro membro da congregação, alguém que afirmava ter fé, sem ter obras. Ele dizia, na realidade, àquele que não tinha obras: ‘A tua fé é suficiente. Um membro da congregação pode ter fé, e outro, obras. Tudo está bem. A fé e as obras são como dons diferentes — ninguém pode ter todos os muitos dotes encontrados entre os membros da congregação cristã. Não fiques perturbado. Tiago faz questão demais das obras. Prossiga; e podes ter certeza de que, mesmo que não tenhas obras (tais como prover alimento e roupa a irmãos e irmãs necessitados, mencionado por Tiago nos versículos 15 e 16), estás agradando plenamente a Deus, se tiverdes fé.’
Tiago responde então: “Mostra-me a tua fé à parte das obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” Em outras palavras, ele desafia aquele que professa ter fé sem obras a provar a sua afirmação, que não tem obras tangíveis para corroborá-la. Tiago, por outro lado, tem ações para provar a existência de genuína fé.
Não importa como se encare a colocação das aspas, é evidente que o ponto básico salientado é o mesmo, a saber, que o verdadeiro cristão precisa ter tanto fé como obras.
A fé que se professa aqui é a fé básica em Jesus Cristo e é essencial para o cristão. A mera profissão dela, porém, não prova a sua existência. A verdadeira fé tem obras vinculadas a si. Fé sem obras não é verdadeira fé, e quem tentasse identificar e ver tal fé não poderia encontrar nenhum vestígio dela, porque não apresenta nenhuma evidência de sua existência. Os pontos em que as boas obras deveriam evidenciar-se apresentam-se vazios. A verdadeira fé não pode ser separada de obras. Portanto, a réplica apresentada por Tiago mostra que a verdadeira fé tem substância. Tal fé demonstra seu poder de induzir o cristão a produzir obras.
O que está incluído nestas obras? O cristão, em todos os pontos da vida, deve querer harmonizar-se com a vontade divina, ‘fazendo todas as coisas para a glória de Deus. Conforme mostra a ilustração de Jesus a respeito das ovelhas e dos cabritos, as obras da fé incluem ir em auxílio dos irmãos espirituais de Cristo, consolá-los em tempos de enfermidade e prover aos necessitados entre eles alimento, bebida, roupa e abrigo. Mat. 25:35, 36.Também é vital a obra excelente da proclamação das “boas novas”. Mat. 24:14. A fé que não possui tais obras mostra não ter poder, ser ineficaz e nada mais do que mera alegação.

VERSOS 19
Crês tu que há um só Deus? Fazes muito bem,Contudo, os demônios crêem e estremecem
Quando um homem está morto, não há nele nenhuma força ou “espírito” animador. De modo que não se produzem obras. Isto é evidente a todos, e pode-se ter a certeza de que não há “espírito” no corpo. O cadáver não serve para nada, mas precisa ser enterrado, para tirá-lo da vista. Do mesmo modo, a fé meramente professa é tão sem vida, improdutiva e inútil como um cadáver. Não se pode ver a fé com os olhos literais, assim como se pode ver alguém, mas as obras de fé podem ser vistas. Quando não há nenhuma animação em alguém, nenhum induzimento a boas obras, há evidência conclusiva de que não existe fé viva nele, porque a fé é uma força motivadora, assim como o “espírito” ou a força de vida motiva o corpo. Por outro lado, quando há abundância de obras cristãs, há bastante evidência de que a fé motiva a pessoa a obras corretas. Por isso, Tiago conclui o seu argumento com uma ilustração que não poderia ter sido mais apropriada.

Tiago escolhe a verdade básica mais óbvia de toda a adoração, a saber, que há apenas um só Deus, o Todo-poderoso. É bem claro que este único Deus em quem os leitores de Tiago criam é o Deus que se identificou nas Escrituras inspiradas. O cristão, tendo tal fé, faria muito bem até esse ponto, porque se trata dum ensino que devia ser adotado por todos. Até esta fé ou crença, mesmo que não fosse mais longe, produziria alguns efeitos. Contudo, a menos que produzisse obras excelentes, não teria valor algum e não levaria à salvação. Tiago prova este ponto ao dizer a seguir:

Tiago mostra aqui que a mera crença, por si só não é genuína fé, mesmo que tenha alguns efeitos emocionais. Os demônios, criaturas espirituais, anjos desobedientes a Deus, realmente viram a Deus e sabem que ele existe, e que ele é um só Deus. Seu conhecimento deste fato e a crença nele produzem efeitos neles — estremecem, sabendo que foram sentenciados à destruição. (Mar. 1:24; 2 Ped. 2:4; Judas 6) Mas, certamente não serão salvos, pois, não somente não fazem boas obras, mas os seus empenhos são todos obras contra Deus. Portanto, diria alguém aos demônios: Basta a sua crença em Deus, sem boas obras; ela os salvará? É interessante notar que nenhuma das criaturas espirituais, nem mesmo os demônios, são ateus ou agnósticos. O ateísmo e o agnosticismo são doutrinas encontradas apenas na terra, entre os que dizem que teriam de ver a Deus com os próprios olhos para crer ou ter fé nele.
VERSOS 20
que a fé à parte das obras é inativa?
A “fé”, ou crença, tal como os demônios têm, produz algo, a saber, sobressalto, tremor, nos demônios. Mas, quanto a qualquer eficácia para a salvação, é absolutamente inativa, improdutiva.
VERSOS 21
declarado justo por obras, depois de ter oferecido Isaque, seu filho, no altar?
Abraão era o antepassado ou progenitor da nação judaica, da qual Tiago era membro natural. Todavia, Tiago não estava escrevendo aos judeus, como nação. Dirigia-se aos cristãos espalhados, tanto de procedência judaica como gentia. Não obstante, Abraão era o “pai de todos os que têm fé”, tanto judeus como gentios.
Novamente, Tiago não contesta o ensino de Paulo. Em Romanos 4:2, 3, Paulo escreveu que, se Abraão “tivesse sido declarado justo em resultado de obras, ele teria base para jactância; mas não para com Deus. Pois o que diz a escritura? ‘Abraão exerceu fé em Jeová, e isso lhe foi contado como justiça.’ “Paulo citou assim o mesmo texto de Gênesis 15:6 que Tiago menciona mais tarde, no versículo 23 do capítulo de sua carta, agora em consideração. As palavras mencionadas foram proferidas a respeito de Abraão provavelmente uns 35 anos antes de seu ato de tentar oferecer seu filho Isaque, a que Tiago se refere. Então, em que sentido se harmonizam os escritos inspirados de Paulo e de Tiago?

Gênesis 15:1-6 mostra que Abraão foi declarado justo pela fé, quando creu na promessa de Deus, de tornar seu descendente como as estrelas do céu em número, numa época em que não havia nenhuma evidência tangível de que Abraão teria um filho, visto que Sara já por muito tempo era estéril. Então, por que pode Tiago dizer que Abraão foi “declarado justo por obras”? Porque Deus, mais tarde, fez a Abraão uma declaração ou um veredicto de justiça, em resultado ou por causa de suas obras, quando ofereceu Isaque. Por meio deste ato, Abraão provou ou demonstrou além de dúvida que sua fé original em Deus e no Seu poder havia sido e ainda era genuína. Provou que sua fé era viva, não morta. Não foram as próprias obras de Abraão que lhe trouxeram a justiça, mas as suas obras eram produto da fé genuína que tinha, e Deus, pelo seu veredicto, confirmou este fato. A disposição de Abraão, de obedecer à ordem de Deus, de sacrificar seu filho, era um ponto saliente para se fazer a declaração de Gênesis 22:12.
VERSOS 22
Observas que a sua fé cooperou com as suas obras e que a sua fé foi aperfeiçoada pelas suas obras,

A fé que Abraão tinha o ajudava e motivava a fazer boas obras. Podemos notar que Tiago não diz que Abraão só tinha obras, mas diz que “a sua fé cooperou com as suas obras”. Abraão nunca teria tentado ofertar seu filho, se não tivesse tido fé. Ao mesmo tempo, se não tivesse obedecido à ordem de Deus, não teria obtido o decreto de aprovação de Deus. Então, Deus nunca teria dado a confirmação da fé que Abraão tinha, nem da sua justificação pela fé. De modo que tanto a fé como as obras contribuíram para o resultado, não a fé sozinha, nem as obras por si sós.
Deus sabia que Abraão cria plenamente na promessa, registrada em Gênesis 12:1-3, quando foi dada pela primeira vez. E Deus podia prever que a fé certamente motivaria Abraão a obras de obediência. As obras de Abraão, realizadas perante Deus e os homens, justificavam a confiança que Deus tinha nele, expressa anos antes, e levaram à confirmação dela por Deus. Considere as palavras de Deus, depois de Abraão ter demonstrado sua fé por obras. Deus disse: “Agora sei [ou: reconheço, admito] deveras que temes a Deus, visto que não me negaste o teu filho, teu único.” Gên. 22:12
Que Abraão foi encarado por Deus como homem justo foi demonstrado até mesmo já antes do nascimento de Isaque, quando Deus disse: “Abraão seguramente se tornará uma nação grande e forte, e todas as nações da terra terão de abençoar a si mesmas por meio dele. Pois fui familiarizar-me com ele, para que ordenasse aos seus filhos e aos da sua casa depois dele que guardassem o caminho de Jeová para fazer a justiça e o juízo; a fim de que Jeová, com certeza, faça vir sobre Abraão aquilo que falou a respeito dele.” Gên. 18:18, 19 De modo que a fé que Abraão possuía foi “aperfeiçoada” ou “completada”, não no sentido de que lhe faltasse alguma coisa, de que fosse necessitada ou inadequada de começo, porque não era imperfeita em si mesma. (Veja a referência a Jesus ser aperfeiçoado, em Hebreus 2:10.) Antes, Deus, por lidar com Abraão e pela Sua ordem a ele, produziu de Abraão obras a ponto de haver uma prova completa da fé que este possuía. A fé possuída por Abraão, junto com suas obras, levou a se alcançar o objetivo de sua fé.
VERSOS 23
e cumpriu-se a escritura que diz: “Abraão depositou fé em Jeová, e isso lhe foi contado como justiça”, e ele veio a ser chamado “amigo de Jeová”.

Tiago cita aqui Gênesis 15:6. Conforme vimos, já muito antes do nascimento de Isaque, Jeová prometera a Abraão que seu descendente se tornaria tão numeroso como as estrelas do céu. (Gên. 15:5) Quando Abraão tentou oferecer Isaque, parecia que esta promessa ficaria anulada, porque, sem Isaque vivo, ela não podia ser cumprida. (Deus dissera: “O que será chamado teu descendente será por intermédio de Isaque.” [Gên. 21:12]) A fé induziu Abraão a obedecer a ordem de Deus, de sacrificar Isaque, porque “ele achava que Deus era capaz de levantá-lo até mesmo dentre os mortos; e dali o recebeu também em sentido ilustrativo”. (Heb. 11:19) Assim se “cumpriu” o texto de Gênesis 15:6, que diz que Abraão foi declarado justo por causa de sua fé. Como? Por se mostrar agora claramente que aquela primeira declaração de justiça foi certa e correta. O que revelava que era assim? As obras de Abraão, sua obediência voluntária à ordem de Deus a respeito de seu filho. O ato de Deus, de declarar inicialmente que Abraão era justo pela sua fé, mostrou-se assim justificado, em base sólida. Ele havia lido corretamente o coração de Abraão, conforme mostrou a obediência deste na severa prova. Portanto, por ocasião da tentativa de Abraão, de sacrificar Isaque, Deus reafirmou o que declarara anteriormente, indo mais longe por selar sua promessa com um juramento. (Heb. 6:13-17) A fé levou Abraão a esta confirmação completa da promessa, porque era fé genuína que induzia a obras. Sabendo que Abraão tinha tal fé, Deus o levou a fazer obras que a provavam além de dúvida. Se Abraão não tivesse obedecido quanto a ofertar Isaque, sua fé teria ficado inoperante, sem valor.
Tiago apresenta assim deveras um forte argumento de que a fé que é de valor real e genuíno tem obras como evidência. E a que obras ela induziu a Abraão! Portanto, a resposta é Sim à pergunta suscitada em Tiago 2:21: “Não foi Abraão, nosso pai, declarado justo por obras, depois de ter oferecido Isaque, seu filho, no altar?” Ele fora declarado justo muitos anos antes. Mas as obras de Abraão confirmaram a declaração feita anos antes por Deus, e, neste ponto, Deus validou sua declaração inicial. De modo que Tiago está destruindo o argumento daqueles que imaginavam que tinham fé, embora não tivessem obras para prová-la.
As obras de Abraão provaram que ele tinha uma profunda fé, do coração, e que realmente amava a Deus. Demonstrou perante Deus e os homens que era, em palavras e em atos, amigo de Deus, a ponto de que o Rei Jeosafá podia referir-se a ele como sendo ‘aquele que amou’ a Deus, e Jeová podia dizer, por meio de seu profeta Isaías: “Tu, ó Israel, és meu servo, tu, ó Jacó a quem escolhi, a descendência de Abraão, meu amigo.” (2 Crô. 20:7, NM; Centro Bíblico Católico; Isa. 41:8) A palavra hebraica traduzida por “amigo” em Isaías 41:8 é a mesma palavra traduzida pela frase “aquele que [te] amou”, ou “amante”, em 2 Crônicas 20:7; e ali o Rei Jeosafá declarou que Abraão era o “amante” ou “amigo” de Deus.
VERSOS 24
Vedes que o homem há de ser declarado justo por obras e não apenas pela fé.
Esta prova que se acaba de apresentar no caso de um dos mais destacados servos de Deus deve habilitar-nos a ‘ver’ que uma afirmação de fé sem obras para prová-la, é ineficaz e não tem valor, e não resulta em alguém ser justificado ou declarado justo. Se cristãos afirmarem crer nas “boas novas” mas nunca fizerem nada relacionado com tal crença — se nunca falarem sobre Deus e Cristo, nem transmitirem as “boas novas” a outros, se nunca fizerem nada para ajudar outros, se a sua alegada fé nunca fizer uma mudança para melhor na sua vida, de que valor seria o cristianismo?
Deus, quem esquadrinha o coração, sabe se a fé é real ou não, e ele declara a pessoa justa à base da fé genuína. Mas a fé que não produz boas obras é apenas especulativa ou imaginária. Quem tivesse tal fé não seria aceitável a Deus, desde o começo — não seria declarado justo, porque Deus saberia de antemão que a sua fé imaginária não produziria boas obras. (Considere a presciência de Deus a respeito de Saulo [Paulo], Jacó, João Batista e Jeremias .
VERSO 26
Deveras, assim como o corpo sem espírito está morto, assim também a fé sem obras está morta

Quando um homem está morto, não há nele nenhuma força ou “espírito” animador. De modo que não se produzem obras. Isto é evidente a todos, e pode-se ter a certeza de que não há “espírito” no corpo. O cadáver não serve para nada, mas precisa ser enterrado, para tirá-lo da vista. Do mesmo modo, a fé meramente professa é tão sem vida, improdutiva e inútil como um cadáver. Não se pode ver a fé com os olhos literais, assim como se pode ver alguém, mas as obras de fé podem ser vistas. Quando não há nenhuma animação em alguém, nenhum induzimento a boas obras, há evidência conclusiva de que não existe fé viva nele, porque a fé é uma força motivadora, assim como o “espírito” ou a força de vida motiva o corpo. Por outro lado, quando há abundância de obras cristãs, há bastante evidência de que a fé motiva a pessoa a obras corretas. Por isso, Tiago conclui o seu argumento com uma ilustração que não poderia ter sido mais apropriada.